Texto e fotografia: Íris Disruptiva

O autor e compositor de Deolinda, o baixista dos Ornatos de Violeta, a voz de A Naifa, o baterista dos Humanos, o guitarrista de Deolinda e um Gaiteiro de Lisboa entram num estúdio e... zás!

“Boa noite, nós somos Cara de Espelho e estamos aqui para vos refletir.”

Assim começa: as luzes baixam e os feixes de luz iluminam a troupe de gigantes da música portuguesa, como que numa versão do FIFA em que o jogo seria escolher o alinhamento perfeito para a nossa banda imaginária e ideal.

É folk português, é experimental, é música de intervenção... Carlos Guerreiro inventa e traz-nos um sem fim de “instrumentos do diabo” que ribombam, estalam e marcam passo. Mas aquilo que mais faz eco são as palavras que flutuam magneticamente pela voz da Mitó, escritas pela mestria do cantador de histórias, Pedro da Silva Martins.

Cada canção estala como uma pedra num charco. Fala-nos do artista que só ao morrer terá permissão para ser o que quiser. Fala-nos daqueles amigalhaços, que entram pela porta do cavalo e a quem a justiça nunca morde. Fala-nos das vozes valorosas pela paz, que sustentam a crueldade em surdina.

"Se nem mesmo Afonso Henriques era puro português"... Espelho meu, espelho meu, serei português de pechisbeque ou de filigrana? Este é um tempo em que já não há vergonha dessa vontade asfixiante de categorizar, dividir e controlar. Importa muito falar deste corridinho português. Porque triste, triste... é quem se silencia. Quem fica a ver dançar. 

São álbuns como este que nos dão força para enfrentar o que nos rodeia. E quando a varejeira se aproxima, a esfregar as mãos sórdidas... é dizer- lhe:

- "Coisifique aqui o dedo!"
E zás! Esmagá-la com o punho.

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